A RELAÇÃO ENTRE CULTURA E SAÚDE MENTAL

Como as tradições, crenças e a cultura de um povo influenciam na percepção da saúde mental e nas abordagens para promover o bem-estar emocional?

A relação entre cultura e saúde mental é um assunto complexo e fascinante, refletindo como os valores, crenças e práticas de uma sociedade podem moldar a maneira como a saúde mental é compreendida, vivenciada e tratada.

A cultura e  as definições de saúde mental.

O que é considerado um comportamento saudável ou um sinal de doença mental pode variar de uma cultura para outra. Por exemplo, em determinadas sociedades, experiências como ouvir vozes podem estar relacionadas a uma conexão espiritual ou religiosa, enquanto em outras pode ser imediatamente classificado como um sintoma de desordem psiquiátrica.

Tradições e crenças também moldam as abordagens de cura e as práticas terapêuticas. Culturas que valorizam a comunidade e as conexões sociais podem se focar mais em terapias de grupo ou em intervenções comunitárias, ao passo que sociedades que enfatizam o individualismo podem tender mais para terapias individuais ou abordagens centradas no próprio indivíduo.

Essas diferenças culturais ainda estendem-se à forma como as emoções são expressas e discutidas, ou até mesmo como os sintomas de doenças mentais são manifestados. Culturas que veem a expressão emocional como algo positivo podem encorajar conversas abertas sobre sentimentos, enquanto outras podem considerar isso um sinal de fraqueza.

Por fim, o estigma associado à doença mental também varia conforme a cultura. Em alguns lugares, a falta de informação e preconceito pode resultar em exclusão social de quem sofre de desordens psiquiátricas, enquanto em outros as pessoas podem ser mais acolhedoras e compreensivas, contribuindo para uma busca mais ativa por ajuda e tratamento.

Como a cultura influencia as práticas terapêuticas e o impacto do estigma cultural na saúde mental ?

A cultura de um local específico pode oferecer um conjunto de recursos terapêuticos endêmicos e moldar práticas terapêuticas, tanto formais quanto informais.

Por exemplo, em certas sociedades, pode-se encontrar uma ênfase forte no uso de práticas como a meditação e yoga (originárias de contextos culturais asiáticos) como ferramentas para promover a saúde mental. Já em outras culturas, podem-se observar práticas de cura através de rituais espirituais ou religiosos, como é o caso de alguns povos indígenas que utilizam plantas medicinais e cerimônias para o tratamento de condições de saúde mental.

Na medicina tradicional chinesa (MTC), por exemplo, a saúde mental é vista de forma holística e o desequilíbrio emocional está intimamente relacionado com desequilíbrios físicos no corpo. Práticas como acupuntura, tai chi e chás medicinais são utilizadas no contexto da MTC não apenas para aliviar sintomas físicos, mas também para tratar o estado mental e emocional do indivíduo.

No âmbito clínico mais formal, o entendimento cultural também é crucial no desenvolvimento de terapias eficazes. Psicoterapeutas que atendem pacientes de culturas diversas devem ser sensíveis a essas diferenças, adaptando suas técnicas para encaixar-se dentro do contexto cultural do paciente. Isso pode incluir a compreensão de valores familiares, abordagens de comunicação, e até mesmo o significado atribuído aos sintomas.

Quanto ao estigma, a cultura pode influenciar profundamente as atitudes em relação às doenças mentais. Em muitas culturas, há um estigma significativo associado a tais condições, o que pode levar os indivíduos a evitar buscar ajuda por medo do que as outras pessoas pensarão ou dirão. Este estigma pode estar enraizado em valores culturais que promovem a autossuficiência, ou que consideram os sintomas de doenças mentais como sinais de fraqueza moral ou espiritual.

Além disso, em algumas culturas, a falta de privacidade em comunidades estreitamente tricotadas pode aumentar o estigma, visto que as doenças mentais são muitas vezes mal compreendidas e podem ser objeto de rumores ou mitos prejudiciais. Tais atitudes podem desencorajar indivíduos de procurar serviços de saúde mental e resultar em isolamento social, discriminação e agravamento dos sintomas.

Combater o estigma cultura requer educação e conscientização para desafiar mitos e equívocos.

Imagine que toda cultura é como uma grande família que tem suas próprias regras sobre o que é certo e o que é errado, e essas regras ajudam as pessoas a entender como devem se comportar. Quando alguém se sente muito triste ou preocupado, ou seja, quando sua saúde mental não está boa, é importante que ele possa falar sobre isso e pedir ajuda. Mas, às vezes, as regras da cultura dizem que não está tudo bem falar sobre esses sentimentos, e isso faz com que as pessoas fiquem com medo de contar aos outros que precisam de ajuda.

Combater o estigma cultural sobre saúde mental é como mudar essas regras antigas por outras novas e melhores. É ensinar a todos que está tudo bem não se sentir bem e que pedir ajuda é algo corajoso e importante. Isso pode envolver campanhas de saúde pública, educação nas escolas, envolvimento de líderes comunitários e influencers culturais, e a normalização das conversas sobre saúde mental.

Podemos fazer isso de várias maneiras:

  1. Falar Abertamente: É como quando falamos sobre um joelho ralado. Se falarmos abertamente sobre a saúde mental, mais pessoas vão entender que é algo normal e que precisa de cuidados.
  1. Histórias e Desenhos: Através de histórias e desenhos animados, podemos mostrar como é importante cuidar da nossa mente, assim como cuidamos do nosso corpo quando nos machucamos.
  1. Aprender nas Escolas: Assim como aprendemos matemática e ciências, podemos aprender sobre sentimentos e como cuidar deles.
  1. Líderes e Heróis: Se pessoas que admiramos, como líderes e heróis das nossas comunidades, falarem que cuidar da saúde mental é legal, mais pessoas vão querer fazer o mesmo.

Para promover o bem-estar emocional em uma sociedade, é fundamental entender e respeitar essas nuances culturais, buscando intervir de maneiras que sejam culturalmente sensíveis e apropriadas

Se você deseja explorar mais a fundo como a cultura influencia as práticas terapêuticas ou o impacto do estigma cultural na saúde mental, ou ainda tem outras questões relacionadas à saúde mental e cultura, vamos continuar essa conversa!

Picture of Simone Nery- CRP 06/143779
Simone Nery- CRP 06/143779

Psicóloga Clínica Fundadora e Responsável Técnico da Clinica Nery Psicologia e Saúde.
Experiência em Avaliação Psicológica para cirurgias.

Este site usa cookies e solicita seus dados pessoais para aprimorar sua experiência de navegação. We are committed to protecting your privacy and ensuring your data is handled in compliance with the General Data Protection Regulation (GDPR).
Precisa de ajuda?